segunda-feira, 5 de março de 2012

[CREEPY] Enquanto esperamos o ônibus


Jonas saiu do restaurante sorrindo. Apesar de não ter terminado como esperava, seu encontro com Rachel tinha sido bastante agradável. Com certeza, eles haviam dado um passo importante na direção de um relacionamento de verdade, ou pelo menos era isso que o jovem acreditava.


A noite estava fria e as ruas estavam desertas. Jonas ficou espantado ao ver como a neblina tinha descido tão rápido sobre a cidade. O outono estava terminando, mas mesmo assim, era raro ver uma neblina espessa aparecer tão cedo no ano. Ele puxou o zíper do casaco de couro preto até o pescoço e apertou o passo.

A parada de ônibus ficava a poucas dezenas de metros dali. Apesar de querer ter passado mais tempo com Rachel, o que ele mais desejava agora era uma boa ducha e uma cama quente para fechar o dia bem.

O vento soprava calmamente, fazendo a neblina criar sombras fantasmagóricas ao redor passar perto dos postes acesos. Parado numa esquina, vendo os semáforos piscando apenas a luz amarela, ele olhou de um lado para o outro, esperando ver algum carro , antes de atravessar. As ruas estavam realmente desertas.

Esperava encontrar a parada de ônibus também vazia, mas ficou contente ao ver que havia alguém lá. Sentado no banco de madeira, estava um velho segurando uma bengala, vestindo um terno preto três números maior que ele. O painel aceso com uma propaganda de refrigerante, ao lado do ponto, destacava a silhueta do homem.

Jonas parou de pé, frente ao ponto, e acendeu um cigarro. Olhou para um lado, para o outro e para trás. O velho parecia estar dormindo. Cabeça baixa, olhos fechados. Enquanto fumava, pensava na Rachel. Teve a idéia de ligar para ela quando chegasse em casa, só para ouvir a voz da moça mais uma vez.
Pouco antes de acabar o cigarro, ouviu o velho suspirando e ao olhar para trás percebeu que o senhor estava de olhos abertos, cabeça levantada, olhando para ele. Alguma coisa no velho o deixava desconfortável, mas não sabia dizer o que. Ele parecia um doente, magro, careca, com uma barba grande, branca e pontuda. Bigode assanhado. Aquelas roupas folgadas, antigas.

Voltou a fumar e olhar em direção ao começo da rua, perdida na neblina. Se perguntava por que o ônibus estava demorando tanto. Como quem tivesse lido seus pensamentos, o velho disse com uma voz tranqüila, porém séria:

- Acho melhor você sentar. Esse vai demorar um pouco para vir.

Jonas tentou parecer calmo, mas a voz do velho no meio daquela neblina tinha lhe dado um belo susto. Olhou para trás e perguntou com uma voz rouca, como a de quem acaba de perder o ar dos pulmões.

- O senhor... ahem... o senhor... faz tempo que o senhor está aqui?

O velho tirou um relógio antigo do bolso e abriu-o. Respondeu sem olhar para Jonas.

- Nossa. Há mais tempo do que eu podia imaginar.

Alguma coisa na forma como o velho lhe respondeu o fez acalmar um pouco. Afinal, apesar do visual sombrio, a voz do homem soava bem amistosa.

- Deve ser a neblina – respondeu Jonas – Todos os ônibus atrasam quando ela cai. Pra evitar acidentes e etc.

- É uma ótima atitude – disse o velho olhando para o pé da bengala.

Jonas puxou outro cigarro e se sentou no banco. Sentia um nervosismo chato, ali conversando com um velho num ponto de ônibus no meio da neblina. A lembrança de Rachel parecia agora uma coisa distante.

- Não sei por que, – disse ele para puxar conversa – mas esse clima assim me dá calafrios. A gente não consegue ver nada. Parece que cada sombra na rua é alguém perseguindo você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário